ALICE NO PAÍS DO CHIKUNG
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Resumo:
Podemos encontrar Chi Kung em todos os cantos deste Universo, basta procurá-lo. Até mesmo num conto tão antigo e simples como “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas”, por Lewis Carroll. Nesta história de encantar, Alice embarca num mundo de fantasia, onde se descobre a si mesma – quer através dos desafios que encontra, como através das mensagens que carregam as tão bizarras e especiais criaturas do conto.
Era e não era uma vez, uma menina de seu nome Alice que
iniciou uma viagem sem retorno – pois no fim desta, não viria a ser a mesma
menina. A entrada no país das maravilhas, nada mais é do que um mergulho no
vasto universo da energia – Chi.
Durante esta pequena grande viagem, irei associar as
peripécias da nossa personagem à sequência dos 5 elementos/estações do ano.
TERRA / FIM DO VERÃO
Alice encontra-se aborrecida e melancólica no jardim da sua
residência, quando eis que aparece, em plena corrida, um coelho branco com um
relógio de bolso ao pescoço. Barafustava: “estou atrasado, estou atrasado!”. Esta
personagem representa o elemento Terra em desequilíbrio. Por um lado, a
preocupação obsessiva com o tempo, por outro, a falta de enraizamento e foco no
momento presente, o qual conduziu à impossibilidade de ser pontual. Alice
demonstrou-se extremamente curiosa com aquele bizarro animal falante. A
curiosidade e talvez a falta de conforto que Alice sentia no seio do seu lar
(também um indício do desequilíbrio deste elemento), levaram-na a perseguir o
coelho. Ao fazê-lo, Alice vê-se a cair num buraco que aparenta não ter fim.
Este nada mais é do que uma descida ao seu próprio interior – ao seu Eu mais
profundo.
Em nós, praticantes de Chikung, esta procura ajuda-nos a
enraizar e ancorar no aqui e agora, à sensação de pertença – “Conhece-te a
ti próprio” – Sócrates.
METAL / OUTONO
Finalmente, Alice volta a tocar com os pés no chão; mas
desta vez não pisava o mesmo solo. Encontrava-se num mundo desconhecido, mas
simultaneamente fascinante. Alice manteve-se decidida a continuar a sua demanda
em busca do coelho branco, mas esta tornou-se cada vez mais difícil à medida
que foram aparecendo sítios e personagens cada vez mais bizarras. Uma destas
criaturas é a Lagarta; a qual representa a retidão do elemento Metal. Assim que
avista Alice, inquere com arrogância e autoridade “Quem és tu?”. A
Lagarta representa o dualismo, tal como o Metal: quer atingir a perfeição e
sofre por não o conseguir, pois até agora não foi capaz de se metamorfosear em
borboleta. No entanto, pelo potencial de metamorfose que apresenta, considero
que de certa forma representa a transformação que Alice vai sofrendo ao longo da
sua viagem.
Para além disso, através da sua retidão, a Lagarta transmite
alguma clareza e clarividência à jovem Alice.
ÁGUA / INVERNO
Continuando a sua caminhada, agora perdida e sem saber ao
certo o paradeiro do coelho, acaba por se deparar com um grande par de olhos
brilhantes e com um enigmático sorriso rasgado, ambos pintados na escuridão da
noite. Só depois se decidiu revelar, essa tão misteriosa criatura – tratava-se
de um maroto gato, empoleirado numa árvore. O gato é uma personagem que se
desmaterializa quando lhe é oportuno, desaparece de cena após provocar uma
situação caótica – ou seja, representa o medo; emoção esta que deve ser
trabalhada de modo a reforçar o elemento Água. No entanto, para Alice (que se
encontra nesse momento perdida) representa simultaneamente a coragem:
Alice: “Podias fazer o favor de me dizer para onde devo
ir a partir de agora?”
Gato: “Isso depende muito de
para onde é que queres ir.”
Alice: “Não me importa muito onde.”
Gato: “Então também não
importa por onde vás.”
A água é ser e permitir a quietude do ser. À sua semelhança, o gato simplesmente está e é, sendo sempre honesto, ainda que misterioso.
MADEIRA / PRIMAVERA
Após o encontro com o gato sorridente, Alice encontra uma
colorida festa de chá, na qual participam o Chapeleiro Louco (mais relevante no
contexto do Chi Kung) e a Lebre de Março. O Chapeleiro cativa imediatamente a
atenção de Alice, pela sua irreverência, imaginação e aparência curiosa. Relaciona-se
fortemente com o elemento Madeira, pois para além de criativo e “louco”, não
deixa de ser impaciente. Para além disso, a raiva e frustração são emoções que
se encontram latentes na mente do Chapeleiro, sendo que este as canaliza sobre
a forma de insanidade.
O Chapeleiro representa o dualismo, loucura versus sanidade.
Existe uma linha muito ténue entre estes dois conceitos, o que para alguns pode
parecer loucura, para outros pode significar sanidade ou lucidez. Tomando como
exemplo o Chi Kung: quando nos pedem
para “Sorrir para o fígado ou Respirar para os rins”, à primeira vista pode
parecer loucura.
Quando se entra para este mundo do Chikung, pode parecer que
tudo é uma loucura, algo sem sentido, mas quanto mais fundo se vai, mais se
encontra o sentido nessa “loucura”, e gradualmente a loucura se mistura com a
sanidade.
Alice encontra-se agora rodeada de Primavera, cada vez mais
alimentada de dinamismo, mudança e crescimento.
FOGO / VERÃO
Finalmente, Alice reencontra o coelho, agora sim, no destino
final do mesmo: o jardim da amarga Rainha de Copas, a qual representa a parte
negativa do elemento Fogo. “Cortem-lhe a cabeça” – decisão rápida e drástica
para acabar com o problema, sem lhe dar muito pensamento. Era este o destino
que a Rainha de Copas dava a quem lhe desobedecia, e honestamente a quem bem
lhe apetecia. Simboliza precisamente o contrário do que o Verão representa: a
compaixão e o fervilhar dos neurónios, ou seja a imaginação.
Chegada ao jardim, Alice é bem recebida pela Rainha, caindo
assim no esquema da mesma. Contudo, após se aperceber das atrocidades cometidas
pela tirana, Alice decide seguir o seu próprio coração, pondo em questão a
autoridade da Rainha. É aí que a mesma manda que lhe seja cortada a cabeça… e
assim Alice acorda do seu sonho, exatamente no local onde anteriormente havia
iniciado esta jornada – no seu jardim. No entanto Alice não é a mesma, nem
nunca será.
Vemos assim que todo este caminho fortaleceu imenso a alma da pequena Alice, a qual se ergueu como uma guerreira perante a Rainha.
Sonho ou realidade, que importa? A viagem de Alice foi
puramente interior e o nosso Eu é o maior universo que alguma vez pode ser
explorado.
O País do Chi Kung é o local ideal para libertar as nossas
inibições e ideais pré-concebidos e assim adquirir a verdadeira sabedoria.
Referências bibliográficas
· A Carroll, Lewis- As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Editora Relógio d’ Água, Lisboa, Maio de 2000
· Sebenta de apoio às aulas, Curso de instrutores de Chikung, 1ºano (2019-2020)e 2ºano (2020-2021)
· https://www.culturagenial.com/
· https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/
· https://psicanaliseclinica.com/alice-no-pais-das-maravilhas/
· https://www.telavita.com.br/blog/alice-e-funcionamento-do-cerebro
· https://psico-grafias.blogspot.com
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