Qi Gong Terapêutico, uma Solução para o Cancro?

 


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  Qi Gong Terapêutico, uma Solução para o Cancro?


        Desde o momento em que começamos a exercer a profissão de Especialistas de Medicina Chinesa, a nossa prática terapêutica é feita de conhecimento, sensibilidade, integridade, e, coragem para ter essa integridade. Equilibramos constantemente o que sabemos com o que temos que investigar, a verdade nua e crua com o discurso gentil e humano, e precisamos de sensibilidade para discernir quais os momentos cruciais em que devemos fazer concessões para o bem do paciente.

Que fazer quando o nosso primeiro paciente  que se senta à nossa frente com o seguinte discurso? “Vou depois de amanhã iniciar o 2º ciclo de quimioterapia, tenho um Linfoma de grau IV. Tenho nódulos nos braços, pernas e tronco. Só quero ser tratada com Qi Gong. Acha que me pode ajudar?”

A paciente tinha um dos tipos de Linfoma Não-Hodgkin (LNH), o Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB) que é uma forma agressiva de cancro em que a morte é rápida se não fôr tratado. Adicionalmente, tinha tido sintomas B 1 que indicam um pior prognóstico, e, o facto de estar no grau IV com nódulos pelo corpo todo, não melhorava o panorama.

O Linfoma é um cancro originado a partir de alterações nos linfócitos 2, que são uma variedade de glóbulos brancos que fazem parte do nosso sistema imunitário. A maioria dos LNH começa nos gânglios linfáticos podendo de imediato espalhar-se através da corrente sanguínea e linfática pelo corpo todo. É por isso que neste tipo de cancro não se fala em metástases nem em cura. Fala-se apenas em remissão.

Como é sabido, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem uma visão holística e uma prática milenar que utiliza para fazer face aos desequilíbrios do indivíduo. Sabendo que a doença não é mais do que uma desordem energética do organismo, quer por deficiência, excesso e/ou estagnação, porque não utilizar uma prática energética para a combater? Uma que acalma a mente, fortalece o organismo, previne, trata e ajuda a resistir à doença, e prolonga a vida?

O Qi Gong, sendo uma das 5 áreas da MTC, há muito que é utilizado na China para este tipo de doença. Há, inclusivamente, hospitais em que o único tratamento para o cancro, SIDA, e outras doenças consideradas incuráveis é apenas a práctica diária de Qi Gong, com exercícios prescritos em função de cada diagnóstico, para serem feitos em várias sessões ao longo do dia. 



Portanto as seguintes perguntas colocam-se: Pode o Qi Gong reduzir os efeitos secundários do tratamento com quimioterapia e com terapia de anti-corpos monoclonais? Pode ajudar a entrar mais facilmente numa fase de remissão? Pode ajudar a paciente a manter-se estável por um longo período de tempo? Será uma boa solução terapêutica?

E voltamos à pergunta dela: “Acha que me pode ajudar?”  A primeira coisa a fazer é manifestar a nossa disponibilidade e empenho, fazer saber delicadamente mas sem margem de dúvidas que o prognóstico da situação é frágil, e que devemos ambas trabalhar muito por aquela cura que queremos muito, mas que não podemos garantir. Neste caso específico, a honestidade de dizer que nunca tinha trabalhado com cancro é dar à paciente a possibilidade de procurar alguém mais experiente para fazer com ela esta luta de vida ou morte. Mentir a alguém nesta situação, não deve ser opção! Se nos escolhe, passamos à fase da investigação e muito trabalho a duas.

Tratamento Alopático: Lexotan 3 x dia para adormecer. 6 ciclos de quimioterapia CHOP 3, numa transfusão de 30 min. a cada 3 semanas. A seguir a cada sessão, a toma de comprimidos de Prednisona em casa durante 5 dias. Ao fim dos 4 meses de quimio, seriam feitos 4 tratamentos semanais experimentais de Rituximab 4, de 3h cada.

Tratamento de MTC: Com base nos sinais e sintomas, o diagnóstico inicial foi de Estase de Qi do F, Deficiência de Yin do C, Deficiência de Yang do BP, Deficiência de Wei Qi do P, e, um resto de Calor no IG resultante da operação de remoção da VB feita no mês anterior, operação na qual foi descoberto que a paciente tinha Linfoma.

Foi feita uma avaliação inicial 2 dias antes da 2ª sessão de quimio, em que foram sugeridas outras técnicas da MTC, mas recusadas pela paciente. Queria Qi Gong. Era feita uma revisão semanal do diagnóstico, com ajuste dos exercícios e práctica ao ar livre. Em sua casa ela tinha uma práctica diária de acordo com o recomendado.




As técnicas aplicadas foram: Exercícios de aquecimento por rotação articular, Respiração do Qi do Céu, Zhan Zhuang Gong (Postura Fundamental da Árvore, Postura da Árvore para regular o A.S, A.M. e A.I., A Água Nutre o Yin, e, Wu Ji), os 18 Movimentos do Tai Ji Qi Gong, Marcha do Cancro para Fortalecer o R, P, C e F-BP, do Wu Qin Xi (Figuras dos 5 Animais) só foi utilizada a Águia.

As sequências, conjugações e número de repetições iam sendo alteradas à medida das evoluções do diagnóstico. Na véspera do diagnóstico final a ansiedade e medo dispararam. A nossa aula desse dia foi caminhar até à praia e falar sobre a morte e outras preocupações na sua cabeça.



Resultado: Ao fim de 21 dias de práctica regular de Qi Gong, em vez de haver um agravamento dos efeitos secundários e enfraquecimento do organismo, as poucas queixas que haviam no diagnóstico inicial foram a pouco e pouco desaparecendo, a paciente sentindo-se mais forte e energética, e a mente mais relaxada para fazer face ao medo da morte e às reacções extremas de alguns familiares. O nível de ansiedade e medo desceu ao ponto de, à revelia do médico, a paciente ter decidido começar a fazer o desmame e por fim eliminar a toma do Lexotan. O cabelo começou a crescer durante a quimioterapia. A menstruação, que tinha desaparecido após a 1ª sessão de quimio e que lhe havia sido dito que podia nunca mais voltar, também voltou a aparecer.

Ao fim de 7 meses de práctica diária de Qi Gong recebeu o diagnóstico de remissão.

            Após 2 ou 3 anos voltou a contactar-me. A paciente fumava 10 a 15 cigarros por dia, sem nunca os ter abandonado no decurso da doença. Tinha decidido deixar de fumar e queria a práctica de Qi Gong para ajudar a acalmar a mente, purificar o P e regularizar o organismo.

Passados 6 anos encontramo-nos. Mantinha-se estável e sem nenhuma recidiva de Linfoma. Continuava sem fumar.

Seria recomendável fazer mais investigação sobre a utilização do Qi Gong para o tratamento de vários tipos de cancro, em pacientes de ambos os sexos e várias faixas etárias.

 


Artigo escrito por Margarida Pedrógão, Especialista em MTC e Instrutora de Chikung
Revisto por Paula Madeira
Editado por Mónica Martinho


1 O linfoma pode ser tipo A ou B conforme a ausência ou presença de pelo menos um de 3 sintomas sistémicos: febre recorrente inexplicável (≥ 38ºC), suores nocturnos e perda espontânea e não intencional de peso superior a 10% nos últimos 6 meses. Os sintomas B são mais encontrados nos linfomas agressivos e muito agressivos, e indicam um pior prognóstico.

2 Os linfócitos são produzidos nas células tronco-linfóides da medula óssea diferenciando-se em linfócitos B e em células imaturas que migram para o timo originando os linfócitos T. Os linfócitos B estão presentes na medula óssea, nos folículos linfóides do córtex superficial dos gânglios linfáticos e da polpa branca do baço, nas amígdalas, e trato gastrointestinal. Eles protegem-nos de invasores (micro-organismos ou moléculas) estranhos ao reconhecer os antigénios, diferenciarem-se em plasmócitos e células de memória, e produzirem anti-corpos. O linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) é uma forma agressiva em que os linfócitos B se apresentam 4 ou 5 vezes maiores.

3 CHOP - Ciclofosfamida, Hidroxidoxorrubicina, Oncovin (Vincristina) e Prednisona

4 O Rituximab é uma terapia biológica ou monoclonal, utilizada em casos de linfoma como complemento da quimioterapia por também ser um tratamento sistémico, mas menos agressivo. Enquanto a quimioterapia destrói tanto as células normais como as afectadas, a terapia monoclonal é dirigida apenas às células mutantes.





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