A Mulher em Contexto de Prostituição e o Chi Kung



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Na filosofia chinesa, o Yin Yang é o princípio de todas as coisas. São duas energias opostas e simultaneamente complementares. Manter o equilíbrio entre ambas é essencial, para originar saúde, bem-estar e harmonia. Apesar de Yin e Yang serem energias opostas, dependem uma da outra, uma não vive sem a outra, e transformam-se uma na outra. 
 Um bom exemplo desta relação é a Mulher que é yin e o Homem yang.
O Yin representa a passividade, o feminino, o emocional, o noturno, o escuro, o frio, a sombra, em contraste com o Yang, representado pela atividade, o masculino, o racional, o dia, a luminosidade, o calor e a luz. 
 A Mulher, neste contexto, representa a parte YIN desta energia, integrada numa relação yin e yang, que existe em todos os seres humanos, mulher e homem (o lado feminino e o lado masculino de cada Pessoa). 
 Na filosofia Chinesa, os rins estão em relação direta com a virilidade masculina e a fertilidade feminina. 
 No corpo humano, a substância que promove o crescimento, o desenvolvimento e a função reprodutora, advém do Jing do Rim, que significa essência, raiz, isto é, a base constitucional de qualquer ser vivo, que resulta da combinação do Jing Inato, obtido no momento de concepção de uma nova vida e herdado dos progenitores, com o Jing Adquirido, que se forma a partir do ar que se respira com a alimentação ingerida. 
 O Jing Inato é a “conta poupança” que deve ser conservada, e apenas utilizada quando o Jing adquirido, em momentos particulares da vida, não consegue realizar a cem por cento a sua função. Assim, se no dia-a-dia os hábitos de vida forem deficientes, o corpo irá recorrer constantemente à conta poupança, esgotando-a! 
 Independentemente de o objetivo estar relacionado com a fertilidade ou a conceção, alimentar os rins, é sempre prioritário para a Mulher, pois resulta em vitalidade e saúde, nas mais variadas dimensões do seu Ser. 


 Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a Mulher na sua essência raíz é Yin. Assim sendo, ela tem o dever de defender e preservar o que Ela tem de mais nobre, a sua energia Yin e, como tal, cuidar como sendo o seu maior Tesouro! 
 Por vezes, em troca de uma situação financeira, de um estatuto, de um estilo de vida, de uma sobrevivência mais imediata, a Mulher, consciente, ou inconscientemente coloca o seu maior tesouro, em segundo plano, acarretando a médio, longo prazo desequilíbrios na sua vida física, emocional, mental e espiritual. 
 Com a prática de Chi Kung Terapêutico, a Mulher toma consciência da importância da procura constante do seu equilíbrio, regulando a ligação do seu corpo, através do coração, do útero e do rim. 
 O coração está ligado ao útero pelo canal do útero (Bao Mai) e o útero está ligado aos rins pelo meridiano do útero (Bao Luo). A ligação entre os 3 órgãos (rim-útero-coração) estabelece, respetivamente, uma linha condutora de equilíbrio, entre os níveis físico, energético e emocional na Mulher. 
 O útero tem um papel regulador nas emoções da Mulher, pois intervém e favorece a comunicação do eixo Coração-Rim (Shao Yin) – “se uma mulher permanece numa relação não saudável porque pensa que não poderá bastar-se a si mesma, económica e emocionalmente, os seus órgãos internos podem correr um sério risco de contraírem doença”. (Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher – Christiane Northrup). 


 Tendo em consideração a teoria acima referenciada, surge este pequeno e humilde trabalho prático que resultou do estágio de Chi Kung Terapêutico, realizado com um grupo de Mulheres, em contexto de prostituição. 
 Um grupo de 6 Mulheres que, ao longo de 26 aulas, tiveram como objetivo geral promover e estimular o seu bem-estar físico, emocional e mental, através de práticas de movimento e não movimento, relaxamento, respiração, atenção, intenção, imaginação e vocalização, associado a uma prática com objetivos mais específicos e centrados na nutrição do rim, fortalecimento do eixo Fogo-Água, fortalecimento dos aparelhos respiratório, génito-urinário e coluna vertebral, a livre circulação do Qi e do Sangue, para melhorar processos articulares de modo a suavizar/ melhorar dores físicas permanentes, do dia-a-dia. Dores na coluna, rins, ombros e pernas são alguns dos exemplos. O aumento da flexibilidade, a promoção de técnicas de relaxamento para melhorar problemas de sono. O equilíbrio dos níveis de raiva, tristeza e preocupação e a promoção de relações e comunicações interpessoais fortes e coesas foram outros dos objectivos. 
 Os resultados obtidos foram muito positivos. De acordo com as respostas ao questionário final, os objetivos específicos melhoraram significativamente, o que nos levou a concluir que o Chi Kung foi uma prática benéfica para as Mulheres em contexto de prostituição, a nível da sua saúde física, mental, emocional e espiritual. Trabalhou e reforçou o cultivo do Jing e a conexão com a energia Yin da Mulher. 
 Somos Mulheres a cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês, ano, anos, Vida!
 É importante nestes tempos, neste tempo, o encontro, a conexão com a nossa essência, a nossa feminilidade, a capacidade de receber, de esperar de confiar, de sermos vulneráveis, de sermos yin, numa relação de yin e yang, de sermos “MULHER”. 

*Artigo escrito por Mónica Santos, editado, revisto e traduzido por Paula Madeira e Joana Duque, publicado e paginado por Joana Freches Duque

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